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A educação de nossos filhos

domingo, 1 de julho de 2012

por Janethe Fontes


Não muito raramente eu me pego perguntando qual a melhor maneira de educar meu filho. Mas eu não digo educar apenas no sentido “pedagógico” e sim no sentido amplo da palavra: “dar a alguém todos os cuidados necessários ao pleno desenvolvimento de sua personalidade”. Afinal, sinto que o maior problema hoje em dia é a falta de “valores”. A educação não pode se resumir em apenas “pagar uma boa escola” e “capacitar o filho, ou filhos, para o futuro”, é preciso também ensinar que palavras como “obrigado” e “licença”, só para citar alguns exemplos, são palavras que jamais deveriam ser esquecidas, e que gestos simples como o de “dar lugar a uma pessoa idosa ou a uma grávida na fila de um banco ou no assento do ônibus/metrô” ou ainda de “abrir a porta do carro para uma mulher (parece démodé que um homem faça isso, mas não é)” não deveriam ser abandonados. Eu poderia ainda citar outros tantos “valores” que “deveríamos” passar a nossos filhos, e, tenho certeza, que você poderia também citar outros inúmeros "valores" que jamais deveriam ser esquecidos/abandonados, mas a intenção neste caso era apenas o de dar uma pequena introdução a um artigo muito interessante do colunista Marcelo Maroldi do site Digestivo. Ele aborda em seu texto não só a questão da “educação atual de nossas crianças”, mas sobretudo a exacerbada preocupação dos pais de “preparar seus filhos para o futuro”, tanto que chegam a esquecer que “criança tem que ser criança”, que é preciso respeitar seu ciclo biológico (outro tema merecedor de muitas discussões, mas que vou deixar para uma próxima oportunidade).

“Na Coréia do Sul, algumas escolas oferecem a seus alunos 16 horas de aulas todos os dias. É isso mesmo, dezesseis horas, não é mentira! As crianças e os adolescentes acordam bem cedo e partem para esse grande desafio. Pela manhã, assistem às aulas tradicionais, como matemática e biologia. À tarde, depois do almoço na própria escola e de fazerem suas tarefas, geralmente em grandes quantidades, recebem ensinamentos nas disciplinas específicas escolhidas por eles mesmos, como matemática avançada, cálculo numérico ou programação de computadores, além de aulas como violino, piano, alemão, japonês, mandarim, escultura, pintura, oratória, política, culinária e muitas outras. Os educadores dizem que estão formando cidadãos capacitados para o projeto de crescimento do seu país e de consolidação de uma nação altamente tecnológica e competitiva.

Ora, eles são crianças, mas não agem como se espera destas. Em uma vida de 70, 80 anos, eles já começam aos 10 uma rotina que resistirá por mais 5 ou 6 décadas. Aprendem, bem cedo, que não é preciso respeitar as etapas da vida – infância, adolescência, terceira idade, etc. O que importa é entrar rápido na universidade, ser bem sucedido em um emprego invejado por todos, ganhar bastante dinheiro, e, então, morrer; não, porém, antes de ensinar ao seu filho o valor de tudo isso na vida dele.

É possível que você pense “eles realmente estão exagerando”. Mas, por aqui, não é muito diferente. É claro que não chega nesse nível, afinal, nossas escolas não têm estrutura para esse tipo de ensino "ideal", elas sequer oferecem uma boa merenda no intervalo entre as aulas e, também, atividades culturais e extracurriculares inexistem nas nossas escolas, geralmente. Mas, não fosse a falta de condições típicas de um país pobre, implementaríamos tal sistema, creio. Aqui, escuto diariamente: estude, filho! Estude para ser alguém na vida! Entendo, por isso, “estude, filho, para ter dinheiro quando crescer”. É o nosso jeito de pressionar as nossas crianças. A infância não existe mais, é só uma pré-escola para a vida competitiva que o mundo impõe. E de meninas, já ouvi: "quando crescer, vou casar com um homem bem rico!" Sim, o homem não precisa ser honesto, educado, carinhoso. Precisa ser rico, apenas, e propiciar um bom casamento. Para muitos pais, é a versão feminina do ser alguém na vida. É o que ensinamos.

O que temos feito, afinal, com a educação dos nossos filhos? Antes, a diversão era jogar bola, soltar pipa. Agora, a diversão é ir às aulas de inglês logo aos 6 anos de idade, se possível antes. Tentam camuflar esse "treinamento" com salas coloridas, filmes e animações feitos em computadores, cadernos bonitinhos, personagens cativantes, professores ensaiados. Mas, ser criança está sendo muito chato. A vida da criança parece estar seguindo uma receita da qual ela não poderá se esquivar se desejar ser bem sucedida mais à frente. Já não é possível ser apenas criança, brincar sem compromisso, aprender naturalmente, aos poucos, devagar. É necessário ser um "adulto infantil", com inúmeras responsabilidades e desafios por enfrentar. É a Era das metas, para crianças, inclusive.".

O pior disso tudo é imaginar que futuramente poderemos ter jovens completamente capacitados mas sem nenhuma noção de respeito, de delicadeza para com o próximo.

É preciso pensar seriamente nisso.


Nota: Texto originalmente publicado no blog blog Palavreando, de Janethe Fontes, em 14/04/2006

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